Folha
de S. Paulo, 21 de junho de 2012.
Dilma foi
monitorada pelo SNI durante governo Sarney
Papéis
inéditos do Arquivo Nacional apontam a existência de 17 relatórios
Arapongas
diziam que Dilma fazia parte de infiltração comunista; Sarney afirma que não
ordenou espionagem
RUBENS
VALENTE
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Documentos
abertos agora ao público mostram que a presidente Dilma Rousseff foi monitorada
não apenas durante a ditadura militar (1964-85), quando foi presa e torturada,
mas em todo o governo de José Sarney (1985-90), hoje presidente do Senado.
Os papéis
integram o chamado "Acervo da Ditadura", do Arquivo Nacional, um
conjunto de mais de oito milhões de páginas produzidas pelos órgãos de
inteligência da ditadura e do governo Sarney sobre a vida de aproximadamente
308 mil pessoas, sindicatos e partidos.
Em
pesquisa na base de dados do acervo, a Folha identificou um total de 181
documentos com referências a Dilma, que começam em 1968, quando ainda era
estudante universitária, e se estendem ao final dos anos 80.
Dezessete
dos papéis foram produzidos durante o governo Sarney pelo SNI (Serviço Nacional
de Informações).
Na fase
pós-ditadura, o SNI apontava Dilma como parte de uma "infiltração
comunista" em órgãos da prefeitura e do governo do Rio Grande do Sul,
chamando a atenção para a sua passagem pelos grupos da esquerda armada
VAR-Palmares e Colina.
Os
relatórios registram a atuação de Dilma no movimento feminista que, segundo o
SNI, buscava "a conscientização das massas, pretendida por facções
esquerdistas que almejam o poder".
O SNI
também monitorou uma viagem de Dilma ao México e acompanhou comício que Dilma e
Lula participaram contra a ampliação do mandato presidencial de Sarney, em
1988.
Ao
integrar o secretariado de Alceu Collares (PDT) na Prefeitura de Porto Alegre,
em 86, Dilma foi alvo de outro relatório. O SNI disse que a prefeitura tinha
"infiltração" de pessoas "com registros de atividades
subversivas".
Relatórios
do SNI da década de 70 sobre Dilma dizem respeito a uma suposta ligação com a
JCR (Junta de Coordenação Revolucionária), grupo de esquerda armada. Dois
relatórios dizem que ela se reuniu com membros da JCR. Um terceiro relatório de
79, porém, agora revelado, diz não ter encontrado comprovação dessa alegação.
Em 2011,
Dilma negou ter mantido reuniões com membros da JCR ou mesmo conhecer a
organização. Procurado ontem, o Planalto disse que não vai se manifestar.
A
assessoria de Sarney disse que, em seu mandato na Presidência, ele havia
ordenado ao SNI que não realizasse "levantamentos sobre a vida
privada" de "nenhum brasileiro". Disse ainda que não era
informado sobre objetivos e resultados do SNI.
O acervo
agora tornado público integra os chamados "dossiês pessoais" e só
podia ser consultado por terceiros após autorização da pessoa.
Com a Lei
de Acesso à Informação, o Arquivo deu prazo para as pessoas pedirem bloqueio
aos seus dossiês. Ninguém, incluindo Dilma, se manifestou, o que tornou a
liberação automática.
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