O
Estado de S. Paulo, 10 de junho de 2012.
Prisão de Cachoeira leva
crise a Anápolis
Desde que contraventor foi detido pela PF, cidade
goiana sente falta do dinheiro movimentado pelos caça-níqueis e desânimo tomou
o comércio
LEONENCIO
NOSSA, ENVIADO ESPECIAL / ANÁPOLIS - O Estado de S.Paulo
Em
Anápolis, 50 quilômetros ao norte de Goiânia e 150 ao sul de Brasília, a queda
nas vendas do comércio não costuma ser associada à crise na Europa. Nas ruas e
lojas da mais dinâmica economia do Centro-Oeste, a crise é chamada de Carlinhos
Cachoeira. Foi a partir da prisão, em fevereiro, de Carlos Augusto Ramos,
contraventor que começou aqui seus negócios na área de jogos eletrônicos, que o
desânimo dos 5 mil comerciantes e lojistas aumentou.
"É
só soltar o Cachoeira para o dinheiro voltar", diz Sebastião Carlos do
Couto, dono de uma banca de DVDs na Avenida Brasil, uma das principais.
"Parece brincadeira, mas a crise do Cachoeira deu uma balançada. O pessoal
está cismado. Acabaram os bares que tinham máquina de jogos e derrubaram os
empregos", relata. Ele diz que vendia antes da crise cem DVDs. Agora,
vende 40.
A Câmara
dos Dirigentes Lojistas de Anápolis registra uma queda de cerca de 30% nas
vendas nos últimos três meses em relação ao mesmo período do ano passado.
Ninguém se arrisca a associar esse porcentual de queda ao caso Cachoeira, mas o
sentimento na cidade de 350 mil habitantes está mais perto de problema local
que resultado de uma conjuntura internacional.
"Após
a crise política, as pessoas ficaram com medo de gastar", diz o
comerciante Reginaldo Regis, dono de uma loja de máquinas de costura na cidade.
"O caça-níquel dava emprego, movia a economia. Agora, queira ou não, o
comércio de Anápolis e de toda as cidades próximas caiu", avalia.
Apreensões.
Nos primeiros dias após a prisão de Cachoeira, a Polícia Civil de Goiás
apreendeu 1.801 máquinas caça-níqueis em Anápolis e nas cidades vizinhas.
Açougues, padarias, salões de beleza tinham suas despesas de aluguel, água e
luz pagas pelas máquinas, que ficavam escondidas nos fundos das lojas. Os
comerciantes ficavam com 10% a 15% da arrecadação das máquinas. A maioria se
acomodou. A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, resultou no fechamento de
bares e lanchonetes que lucravam com os jogos na Praça do Bom Jesus e nas ruas
em volta do terminal rodoviário, onde nos anos 1970 o então desconhecido cantor
sertanejo Mirosmar de Camargo, agora Zezé di Camargo, se apresentava.
Empresários
da região ouvidos pelo Estado avaliam que a crise política, mesmo que atinja
apenas o humor dos comerciantes, ainda deverá trazer mais desgaste para a
imagem de Anápolis, que aposta no setor de logística e no comércio interestadual.
Embora a CPI do Cachoeira instalada no Congresso não avance nas investigações
da PF, os empresários dizem que ainda é incerta a situação do governo do
Estado, por exemplo, nesse processo.
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