Valor Econômico, 25
de maio de 2012.
Ativistas criticam direitos humanos no Brasil
Por Guilherme Serodio | Do Rio
Entre janeiro e setembro de 2011, 804
mortes foram registradas em conflitos com a polícia só nos Estados do Rio e São
Paulo, enquanto nos Estados Unidos foram 137 pessoas mortas por policiais no
ano e na Alemanha apenas 6.
O dado é parte d o relatório da Anistia
Internacional (AI) "Estado dos Direitos Humanos no Mundo", lançado
ontem no Rio.
Diretor executivo da AI no Brasil,
Átila Roque destaca a constituição da Comissão da Verdade como "um enorme
avanço, resultado de décadas de lutas, sobretudo dos familiares das vítimas e
de organizações de direitos humanos". Apesar de iniciativas como esta e da
melhoria dos indicadores sociais, o relatório denuncia a violência policial nos
centros urbanos com a prática de "torturas e execuções
extrajudiciais". No campo, os conflitos agrários e grandes obras de
infraestrutura ameaçam ativistas, indígenas e quilombolas.
Entre os ativistas presentes ao evento,
a opinião consensual é que a situação dos direitos humanos no país é
preocupante.
Uma das maiores especialistas do Brasil
em segurança pública, a socióloga Julita Lemgruber destaca a atenção do
relatório às área de segurança pública. Segundo ela, em 2011 a polícia
brasileira matou 1100 pessoas.
Julita, a primeira mulher a comandar o
sistema prisional carioca, comenta a condição precária da população carcerária.
Para ela, seriam necessários "R$ 10 bilhões para resolver o problema do
déficit carcerário".
Em 2011, havia 500 mil presos no país,
44% deles cumprindo prisão provisória, informa a Anistia. A instituição
denuncia que os presos brasileiros são submetidos comumente a superlotação,
condições degradantes, tortura e violência. "A aposta brasileira pela
prisão como política de segurança pública é "irracional", diz Julita.
No campo a situação é assombrosa, diz o
advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diogo Cabral. Nos últimos cinco
anos foram 1610 mortes em conflitos rurais, segundo a CPT. No período houve
apenas 92 julgamentos de assassinatos em conflitos rurais e só sete mandantes
foram condenados no país.
A situação é mais delicada nos estados
do Maranhão e Pará, que reuniram quase 30% dos 1335 conflitos rurais no país em
2011. "As populações rurais tradicionais estão sendo exterminadas",
diz Cabral.
No ano passado, havia 1.855 pessoas
ameaçadas de morte em razão de conflitos agrários no país, segundo a Anistia.
Mas, de janeiro a maio de 2012 mais 14 assassinatos foram registrados em
conflitos no campo.
Para a Anistia, grandes obras de
infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também são um
risco para populações tradicionais pelos deslocamentos provocados.
A organização vai reabrir seu escritório
no Brasil em julho. A Anistia é saudada por ativistas como um reforço de peso
que traz visibilidade à luta pelos direitos humanos. "O desafio é formar
uma sociedade que incorpore os direitos humanos como parte central da
democracia e do desenvolvimento no Brasil", diz Roque.
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