quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Avanço das milícias

Rio de milícias
03 Set 2014

Editoriais

 
 É tão avassalador quanto preocupante o avanço das milícias no Rio de Janeiro na última década.
Segundo reportagem desta Folha, em 2004 eram seis as favelas cariocas controladas por tais organizações criminosas, muitas vezes formadas por policiais, bombeiros e militares na ativa ou já desligados de suas funções oficiais.
Hoje, o fenômeno está espalhado por 195 comunidades, em 23 dos 90 municípios fluminenses --somente na capital do Estado, são 148 regiões sob controle ilegal.
Durante certo tempo, ganhou espaço indevido a visão edulcorada que esses grupos propagavam. Armados de uma retórica disparatada, diziam libertar a população carente do jugo de traficantes.
Em vez disso, os milicianos impõem aos moradores de favelas a cobrança por segurança e outros serviços (água, gás, internet, TV a cabo) e fazem uso de suas posições privilegiadas como agentes do Estado para mitigar os efeitos da repressão policial. A chave dos grilhões apenas mudou de mãos.
Mas não é só. Depois de uma incursão de chefes de milícias em cargos legislativos entre 2007 e 2010 --o que resultou em prisões e perdas de mandato--, essas organizações mudaram de estratégia. Agora, forçam a população dos territórios que controlam a votar em candidatos por eles apoiados.
Ameaçam, pois, a liberdade de campanha de quem não esteja alinhado com seus interesses. São recorrentes as denúncias de que as favelas são "vendidas" ao postulante que pagar para ser o único autorizado a frequentar o local.
Na semana passada, a Secretaria de Segurança enviou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) relatório de preocupantes conclusões. Nada menos que 41 áreas no Estado ora sob controle do tráfico ou de milícias já restringiam as ações de diversos candidatos, formando currais eleitorais.
Por essa razão, o TRE-RJ decidiu solicitar o apoio da Força Nacional de Segurança nas eleições deste ano. Espera, assim, garantir que a disputa ocorra livremente.
O pedido ainda será apreciado pelo Tribunal Superior Eleitoral e tem a oposição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que diz não ver a necessidade da medida. Num cálculo político rasteiro, demandar tropas federais equivaleria, ou assim seria visto, como uma admissão de fracasso das políticas de combate às milícias.
Tal malogro, porém, é verdadeiro. Se o Rio colheu bons resultados iniciais no combate ao tráfico com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), ainda parece tatear na contenção dessa outra modalidade criminosa, que também cresce onde o Estado se faz ausente. 

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