O Estado de S. Paulo, 17 de setembro de 2014.
A DEMOCRACIA FRAGILIZADA
Mais
uma vez uma grande decepção se delineia para o povo brasileiro. Em
depoimentos à Policia Federal o ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto
Costa, declarou que políticos da base de apoio ao governo central
participavam de um esquema de corrupção envolvendo aquela empresa e
grandes empreiteiras. O fato envolve nomes de expressão no cenário
político atual e colocam o nosso governo no centro de um escândalo
idêntico ou até maior que o "mensalão".
Advogados
renomados e regiamente pagos, certamente, entrarão neste processo, e
com base em trâmites jurídicos longos, prolongarão no tempo os possíveis
julgamentos finais. O povo brasileiro, conforme experiências vividas em
passado, já se manifesta com a costumeira assertiva: "Não vai dar em
nada!", selo de descrédito em nossas instituições. É neste ambiente
conturbado que a eleição presidencial e as legislativas se aproximam.
Com o auxílio de marqueteiros e homens de comunicação social prevê-se um
verdadeiro "vale tudo", recomendado inclusive por lideranças políticas
que nos governam.
A
propaganda eleitoral mostra ainda o nível daqueles que comporão o nosso
Congresso e as Assembleias Legislativas. Com exceções, são
participações hilárias onde predominam excentricidades, direitos
inatingíveis e assistencialismos exacerbados. São representantes de
trinta e dois partidos com os costumeiros objetivos de aproveitamento de
futuros cargos públicos ou de benesses dos governos central ou
estadual. Agora com este novo escândalo, está bem claro que a “base
governamental” sempre teve como objetivo evidente o apoio ao governo
central em troca de favores e dinheiro público. Fatos que causam
indignação e revolta do nosso povo, que não merece um Legislativo
encabrestado pelo Executivo. Assim, a pobreza política de nosso país
continuará!
E
o que se pode dizer do nosso poder Judiciário? Com o êxito alcançado
nos julgamentos do "mensalão" e da atuação impar de seu antigo
presidente, tornou-se uma esperança para os brasileiros. Entretanto, a
presença ideológica e partidária em todos os seus níveis, uma execução
penal complexa e prolixa, ininteligível para a maioria do povo são
alguns dos aspectos que comprometem a sua credibilidade. E, sem contar, o
predomínio da ab-rogação do mérito e as inúmeras indicações políticas
que ferem o artigo 101 de nossa Constituição. Neste país continental,
com duzentos milhões de habitantes, em que impera a permissividade e a
impunidade, necessitamos de um Judiciário que marque sua presença não só
com justiça e isenção, mas também com celeridade e punições mais
severas no rigor da lei.
Talvez
em razão dos fatos apresentados, as indagações quanto às posições das
Forças Armadas no atual sistema democrático em que vivemos se avolumam
nas redes sociais. "Só Deus e os militares poderão nos salvar!" é o que
se lê e se ouve nestes tempos de descrédito. E isso se repete agora como
já aconteceu em épocas pretéritas.
O
desmando dos governos, a corrupção em todos os níveis das instituições,
a situação econômica frágil, a Justiça comprometida, o nepotismo, as
mordomias, a falta de segurança são aspectos que, entre outros, fazem o
povo clamar. Aliás, tal clamor não vem somente das "zelites", como diz
um político e filósofo popular. Vem, inclusive, das classes mais simples
do povo.
Mesmo
com uma campanha difamatória conduzida por alguns órgãos de imprensa,
ideólogos e intelectuais de esquerda e ainda integrantes do mundo
artístico, os militares continuam com a sua credibilidade em alta,
acima, inclusive, de entidades religiosas; e estão se transformando em
"válvula de escape" do clamor popular, fora e dentro dos quartéis. Como
fazem parte da sociedade, os militares tudo ouvem, pelo menos, por
enquanto, permanecendo o silêncio obsequioso que adotaram. Este
silêncio, entretanto, está provocando situações preocupantes. Nos
programas dos candidatos presidenciais pouco se diz a respeito das
Forças Armadas.
Como
se não fossem bastantes as ações unilaterais da Comissão da Verdade,
agora surge o parecer enviado ao STF pelo Procurador-Geral da República
defendendo a revisão da interpretação atual da Lei da Anistia. Quanto a
esta nova interpretação ― contrária à definição propalada pelo STF em
2010 ― é de se perguntar se ela também abrangerá os diversos crimes
praticados pelos radicais de esquerda, muitos deles imprescritíveis.
A
continuar esta exclusão e atitudes revanchistas flagrantes, as Forças
Armadas, em 2015, também poderiam participar da Marcha dos Excluídos,
realizada em várias capitais do país logo após os desfiles do Sete de
Setembro. Poderiam expor suas apreensões, anseios e vindícias, como
protesto contra as ações deletérias que vem sofrendo.
É
ainda pertinente falar do controverso Decreto 8243/2014 ― também
chamado de bolivariano ― elaborado pelo atual governo e que será
analisado pelo Congresso. Ele abre as portas para o ingresso de reais
"sovietes” no Ministério da Defesa e, em consequência, em nossas Forças
Armadas. O citado decreto consta dos programas das duas candidatas que
lideram as pesquisas, e é uma das principais orientações dos
intelectuais gramcistas do Fórum de São Paulo.
Em
nosso país, para aqueles que não viveram o período que antecedeu o
Movimento de 64, políticos inescrupulosos fomentaram a divisão entre
oficiais e praças de nossas Forças, objetivando ferir frontalmente os
princípios basilares das instituições militares: a disciplina e a
hierarquia. Estas ações desagregadoras foram decisivas para a atitude
adotada pelos líderes militares da época.
Espera-se
que nossas autoridades políticas estejam atentas para os fatos
assinalados e que atendam os clamores de nosso povo. Ou, então, tempos
incertos e de descrenças estarão presentes em nossas instituições. E aí a
nossa democracia estará inexoravelmente fragilizada.
Gen Ex R/1 Rômulo Bini Pereira