Orgia partidária
Merval PereiraOs últimos dias para a definição das coligações partidárias estão produzindo um quadro esquizofrênico de alianças que tem na união do PSB com o PT no Rio de Janeiro seu melhor exemplo.
Um candidato petista regional tendo o apoio de um candidato de oposição a nível nacional é uma mistura explosiva. Houve até quem pensasse num primeiro momento que a coligação seria um sinal de que há nos bastidores uma reaproximação entre Eduardo Campos e o PT, já que Lula, e não Dilma, é o fiador da candidatura de Lindbergh ao governo do Rio.
Mas essa teoria da conspiração esbarra no acordo feito pelo mesmo Eduardo Campos em São Paulo, apoiando Geraldo Alckmin do PSDB. Não é à toa que o Rio de Janeiro é o palco de alianças heterodoxas, como a que já existe na informalidade entre o PMDB e o PSDB.
Essa união, aliás, só não se oficializa por que o DEM insiste na candidatura de Cesar Maia, mais por respeito à história do ex-prefeito do que por uma estratégia eleitoral. A união com o PT do Rio terá pouca importância para o PSB, ao contrário da coligação armada em São Paulo, que dará o lugar de vice do governador Geraldo Alckmin ao partido, com o potencial de vir a governar o estado caso Alckmin se reeleja e ao final do mandato se desincompatibilize para disputar outro cargo.
No Rio, o candidato ao Senado será o deputado federal Romário, que com a desistência de Jandira Feghali passa a ser o favorito para a vaga, numa disputa acirrada com o ex-governador Sérgio Cabral, que pode até mesmo desistir da candidatura devido a esse quadro novo que se desenha.
Em nenhum dos dois casos, no entanto, o número 40 do partido poderá aparecer na propaganda de rádio e televisão, o que garante a primazia para a presidente Dilma no Rio e para Aécio Neves em São Paulo.
Como ninguém que está nesse jogo é ingênuo é possível que exista um movimento do PSB para interpretar a legislação eleitoral de maneira mais flexível, permitindo que a coligação estadual apoie outro candidato a presidente que não o oficial.
Mesmo que isso não ocorra formalmente, veremos uma série de combinações paralelas juntando o candidato do PSB Eduardo Campos ao governador Geraldo Alckmin do PSDB e ao candidato do PT Lindbergh Farias. Assim como no Rio a chapa apelidada de Aezão (Aécio Neves e Pezão) já é uma realidade local.
Mesmo que seja verdade que Aécio Neves apoia desde o primeiro momento a adesão do PSB à coligação do PSDB em São Paulo, não há dúvida de que essa adesão é uma questão delicada na geopolítica paulista, fundamental para todos os candidatos.
Esse movimento deve fortalecer, por exemplo, a candidatura a vice de um representante paulista do PSDB para ser o coordenador da campanha nacional junto à campanha estadual. O senador Aloysio Nunes Ferreira seria o nome mais indicado, por ser do grupo de José Serra e ligado ao governador Alckmin.
A situação era melhor para o candidato tucano quando havia um entendimento melhor entre ele e o candidato do PSB, um acordo tácito de apoio mútuo. Existe a possibilidade, porém, de que esse relacionamento mais próximo volte a interessar a Eduardo Campos, e há informações de que ele estaria propondo novamente acordos regionais mais amplos, apoiando o candidato tucano em Minas em troca de um acordo no Espírito Santo, onde o governador do PSB Renato Casagrande tenta a reeleição.
Se Campos realmente estiver disposto a refazer as pontes em direção ao PSDB, estará se distanciando de sua vice Marina Silva, que perdeu a disputa em São Paulo e também no Rio, pois defendia a candidatura própria nos três principais colégios eleitorais do país, inclusive em Minas, onde a tese ainda prevalece.
A verdade é que esses acordos firmados à última hora refletem a política nossa de todos os dias, onde o programático cede lugar ao pragmático. Às vezes com certos exageros, como frisou o deputado Alfredo Sirkis do PSB ao anunciar que abre mão de se candidatar nas próximas eleições para não participar do que chamou de uma “suruba” partidária.
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