sábado, 12 de outubro de 2013

Por que o PCC continua agindo dentro das cadeias?

Exército de bandidos
12 Out 2013

Em megaoperação contra facção, Ministério Público aponta plano para matar até Alckmin

Marcelle Ribeiro e Sérgio Roxo


-São Paulo- Depois de três anos de investigação, o Ministério Público de São Paulo concluiu que a facção criminosa que domina os presídios paulistas se fortaleceu no país inteiro, fatura cerca de R$ 100 milhões por ano com a venda de drogas e até planejou a morte do governador Geraldo Alckmin. Como resultado da investigação — a mais ampla no combate ao crime organizado —, o MP denunciou e pediu a prisão de 175 pessoas por formação de quadrilha armada, que prevê reclusão de quatro a oito anos. Os promotores solicitaram também a transferência de 35 criminosos já presos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em que os detentos têm benefícios suspensos.
A Justiça aceitou a denúncia contra 161 acusados e os transformou em réus, mas entendeu que ela não era cabível para 14 pessoas. Do total de 175 pessoas, cerca de dois terços já estão presas, respondendo por outros crimes. O Judiciário paulista negou ainda todos os pedidos de transferências para o RDD. O MP recorreu. O juiz assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo, Rodrigo Capez, disse que o processo contra os denunciados deverá demorar cerca de um ano e meio para ser julgado. Agora, todos os envolvidos serão citados para apresentar defesa.

UMA ORGANIZAÇÃO DE MAIS DE 11 ML CRIMINOSOS
De acordo com as investigações, a facção tem hoje mais de 11 mil integrantes no país, sendo 7.800 em São Paulo. Dos 11 mil, mais de 8.700 estão presos. Presente em 22 estados brasileiros, também tem ramificações na Bolívia e no Paraguai. Em uma das interceptações telefônicas feitas em agosto de 2011 pelo MP e pelas polícias Civil e Militar, um dos chefes da facção, Luis Henrique Fernandes, conhecido como LM, fala com integrante conhecido como Tiquinho sobre as dificuldades enfrentadas pelos criminosos depois da posse de Alckmin e diz que o bando "decretou" a morte do governador.
"Depois que esse governador entrou, aí o bagulho ficou doido mesmo. Você sabe de tudo o que aconteceu, cara, na época que nóis decretou ele (governador), então, hoje em dia, secretário de Segurança Pública, secretário de Administração, comandante dos vermes (Polícia Militar), estão todos contra nóis" disse LM.
Após evento em Mirassol, no interior do estado, Alckmin disse ontem que não vai se deixar intimidar pela facção criminosa, que é acusada de tráfico de drogas, de mandar matar autoridades e de manter depósitos de armas.
— Os bandidos dizem que as coisas ficaram mais difíceis para eles. Pois eu quero dizer que vai ficar muito mais difícil ainda. Nós não vamos nos intimidar. É nosso dever zelar pelo interesse público, lutar contra a criminalidade — afirmou o governador.
Alckmin afirmou ainda que o governo pretende tornar o RDD mais duro.
— Vamos fortalecer ainda mais o Regime Disciplinar Diferenciado, penitenciárias de segurança máxima, para isso temos as mais fortes penitenciárias do país no estado de São Paulo. Os índices de criminalidade estão em queda, fruto exatamente desse trabalho, que vai ser fortalecido para proteger a população disse o governador.
A Secretaria de Segurança paulista disse que a ameaça ao governador é "a mais clara demonstração de que o estado de São Paulo combate o crime organizado. Tanto é assim que os líderes da facção se sentem ameaçados eles mesmos".
Em outra interceptação telefônica, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o chefe geral da organização criminosa, diz para um integrante do grupo chamado Magrelo que a criminalidade no estado caiu pois há "muita burocracia" para matar pessoas, e não devido ao trabalho do governo do estado.
Magrelo diz: "Sabia que esses caras tinha que te agradecer porque você deixou a maior paz aí. Já pensou se tivesse crack, esses negócio na cadeia... Como que ia tá? Eles ia pedir seguro toda hora..." E Marcola responde: "Ô irmão... Sabe o pior o que é? É que hoje... 10 anos atrás todo mundo matava todo mundo por nada.., Hoje pra matar alguém é a maior burocracia... quer dizer: os homicídio cai não sei quantos por cento, aí eu vejo o governador chegar lá... e falar que foi ele".

SECRETÁRIO NEGA QUE FACÇÃO REDUZIU HOMICÍDIOS
O secretário de Segurança, Fernando Greila Vieira, afirmou que a fala de Marcola é "algo de quem quer parecer mais importante do que de fato é" A secretaria disse que os homicídios caíram em São Paulo porque o estado combate o crime.
Perguntado sobre o fato de os criminosos continuarem dando ordens à quadrilha mesmo atrás das grades, a Secretaria de Segurança afirmou que "trabalha ininterruptamente no combate ao crime organizado" Segundo o órgão, "conforme os grampos que têm sido divulgados pela imprensa, os próprios criminosos reconhecem que as polícias de São Paulo enfrentam com dureza o crime organizado" De acordo com a secretaria, em agosto deste ano, 29 chefes e integrantes da facção foram presos, causando "grave prejuízo" à estrutura da organização criminosa.
A conclusão da investigação do MP foi divulgada ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo" Em novembro do ano passado, O GLOBO já havia antecipado alguns dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, que mostravam a ação do grupo em pelo menos 21 estados.
Ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que pretende renovar por mais um ano acordo entre a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e a Polícia Federal, que resultou na criação de uma agência de inteligência para troca de informações sobre atuação da maior organização criminosa de São Paulo.
— As organizações criminosas atuais mostram um nível de audácia, e isso exige da parte do Estado, seja governo federal ou estadual, ações integradas e conjuntas para enfrentar essa realidade. Temos que mostrar que somos mais fortes que o crime — disse Cardozo, durante um almoço organizado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
Além da troca de informações, o ministro diz apostar no incremento da colaboração com polícias de outros países para atacar o tráfico de drogas, principal fonte de renda das organizações criminosas de São Paulo.

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