segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O criador profissional de partidos políticos!

De Collor a Enéas, o profissional que cria partidos

O Globo - 06/10/2013
 
Marcílio Duarte já ergueu oito legendas e diz que espera papel na direção do Solidariedade, de Paulinho
Maria Lima

-BRASÍLIA-
O advogado Marcílio Duarte não aceita nem como piada o apelido "maníaco das siglas". Com 71 anos, o carioca é o nome por trás da criação de sete partidos nanicos vistos como legendas de aluguel. Com vasto conhecimento da burocracia eleitoral, já rodou o Brasil em aviões de carreira usando milhas de parlamentares ou em jati-nhos cedidos pelos donos das legendas, organizando a coleta de assinaturas para a criação de PSL, PGT, PTN, Prona, PTR, PSC, PST — o único que dirigiu — e, agora, o Solidariedade.
Para cobrir seus honorários, já recebeu de alguns R$ 400 mil, de outros, apenas um jantar. Ao longo dessa produtiva carreira diz ter dois arrependimentos: ser corresponsável pela eleição do presidente cassado, Fernando Collor, em 1989, e ter cedido a presidência de seu PST, em 1992, para que o hoje senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disputasse a Presidência da República.
Na década de 1980, um anúncio de jornal com um chamamento do então deputado Álvaro Vale (Arena) lhe chamou a atenção. Ele queria criar um partido liberal que só aceitava gente de reputação ilibada. Marcílio achou que se encaixava no perfil.
— Fiquei muito curioso e queria saber como se criava um partido. Ia advogar no TST, em Brasília, e sempre ficava peruando no TSE, vendo como aquilo funcionava. Pensei: vou fazer um partido para mim. Conheci um camarada no TSE que me deu um partido que estava quase pronto, o PTR — lembra Marcílio, sobre a criação da primeira das sete siglas.

Acabou se desiludindo pelo PTR e, encantando pela figura de LechWalesa, decidiu que iria construir seu próprio partido trabalhista. Com o "amigo de bebedeira" o deputado João Cunha, criou o Partido Social Trabalhista (PST), que chegou a ter cinco deputados federais.
Na época, o então governador Fernando Collor se candidatou numa coligação do PRN com PJ e PSC, mas, segundo Marcílio, foi a coligação com o PST que lhe rendeu 10 minutos de TV Cheio de planos, amigo de poderosos do entorno de Collor, Marcílio já se via na Esplanada. Mas diz que seus sonhos foram podados pelo irmão, Leopoldo Collor, e pelo cunhado, Marcos Coimbra.
— Depois não me deram a menor chance. São erros irreparáveis que a gente comete. Tenho esse arrependimento. Se soubesse que ia acabar no impeachment, tinha dado o tempo para o Brizola — diz Marcüio.
Em 1992, quando perdeu a eleição para deputado, apareceu na sua frente um outro governa-dor bonitão, que se destacava no PMDB e queria ser candidato a presidente pelo seu PST.
— O Álvaro Dias me recebeu em Roma. Estava cheio de cabelo recém-implantado e tinha um belo discurso! Eu pensei: sou ministro! Esse aqui não vou deixar cunhado me escantear não!
Mas logo teve a segunda desilusão. O candidato Álvaro Dias alegou que, na campanha, era melhor que assumisse a presidência do PST e assim foi feito. O novo presidente teria levado 10 deputados amigos e, mais uma vez, acabou escanteado.
— Foi minha segunda grande decepção política. Mas nem ele foi eleito presidente, nem eu virei ministro.
Afastado do PST, foi criar mais partidos: o PGT, para Ca-nindé Pegado; o PTN, de Dorival Abreu; e o PSL, para a família Tuma. Em 1994, retomou o PST, partido pelo qual se elegeu vereador por Mairink (SP), seu único cargo eletivo. Já com fama de "maníaco das legendas" foi procurado pelo Doutor Enéas: um médico baixinho, barbudo, com cara de Bin Laden, dizendo que queria ser presidente.
— Era alopradão! —- relembra Marcílio.
Há dois anos e meio, sob encomenda de Paulo Pereira da Silva, criou o Solidariedade. E teria que ser o presidente, porque Paulinho não podia aparecer. Com milhas do parlamentar, voou o país em busca de assinaturas.
— A gente fez um trabalho lindo, muito bem feito! — conta Marcílio, que no dia seguinte à aprovação do registro, repassou a presidência a Paulinho, em troca de uma promessa de candidatura dele ou do filho, e o cargo de secretário-geral
Se ficou rico, com a criação de tantos partidos, Marcílio diz que não.
— Nada do que fiz foi por dinheiro! Só tenho um sonho: que o Solidariedade seja mais bem sucedido que os outros partidos que criei. Se
tiver um espaço para eu ser candidato, serei. Se não conseguir, vou me recolher à minha insignificância. •











































 
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