terça-feira, 29 de novembro de 2011

Números das UPPs latreiam 'invasão' social

Números das UPPs lastreiam ‘invasão’ social
29 Nov 2011



O levantamento publicado anteontem pelo GLOBO com indicadores de crimes em bairros na órbita das UPPs é bom termômetro para medir o impacto desse programa, que se tornou a ponta mais visível da vitoriosa política de segurança do Rio de Janeiro. A queda de 50% no total de assassinatos — fruto da presença policial que virtualmente acabou com tiroteios (ou os tornou episódicos) e asfixiou as quadrilhas de traficantes que subjugavam as comunidades — projeta uma realidade bem distinta daquela resultante da tiranização dos bandidos: graças às UPPs, preservaram-se 270 vidas e evitaram-se 11 mil roubos.
São números convincentes. O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, estima que as UPPs resgataram “duas Niteróis” do domínio do tráfico. Mas é um indicador que, obviamente, não pode constituir um fim em si. O próprio secretário prefere manter o foco no que ainda há por ser feito, e não é pouca coisa, a adotar um discurso puramente otimista. Mesmo nas áreas já pacificadas, sob controle policial-militar, ou protegidas só pela PM, há registros, mesmo esporádicos, de demandas não resolvidas. No Complexo do Alemão, criminosos trocaram tiros com uma patrulha militar, sinal de que o tráfico, sufocado no atacado, ainda se manifesta espasmodicamente no varejo. Pior: mostra que ainda há armamento com as quadrilhas, evidência mais grave do que eventuais descobertas de pontos de venda de drogas. O fuzil não desapareceu.
Há também relatos de abusos praticados por soldados das UPPs e, em algumas favelas, a população ainda não está cem por cento convencida de que é para valer, permanente, a retomada da comunidade pelo Estado, o que de certa forma lhes tira a confiança de colaborar com as forças da ordem. Num plano mais geral, mesmo tendo cimentado o caminho para a crucial invasão social das comunidades, o poder público ainda não deu esse estratégico passo, sem o qual, alerta o secretário Beltrame, o programa de UPPs poderá se atolar num beco sem saída.
De qualquer forma, o levantamento é estimulante. E oportuno, pois marca o aniversário de um ano da retomada do Complexo do Alemão, decorrente de uma eficiente operação policial-militar. Ao lado da recente pacificação da Rocinha, a ocupação de um ano atrás representa a mais contundente cunha encravada pelo Estado nos domínios das quadrilhas de traficantes, profunda o suficiente para seccionar os vínculos com a criminalidade que, pela tirania, os bandidos impunham às comunidades. Mas ainda falta o que fazer.
As operações no Alemão e na Rocinha guardam diferenças, evidência da complexa realidade da pauta das UPPs. A ocupação do Complexo atropelou o planejamento, em razão dos atos de terrorismo desferidos a partir do bunker dos traficantes naquela comunidade. Na Rocinha, a pacificação foi planejada, inclusive com operações de caça a arsenais dos bandidos — varredura que será feita no Alemão, disse, em entrevista ao “Bom dia, Brasil”, o comandante das forças do Exército, general Rego Barros. As UPPs abriram o caminho para a “invasão” social. No Alemão, a chegada dos serviços públicos serve, ainda, para compensar a parte que falta cumprir da missão

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