domingo, 13 de novembro de 2011

Conflito na universidade é sintoma de crise democrática

Folha de S. Paulo, 13 de novembro de 2011.

Conflito na universidade é sintoma de crise democrática
Distanciamento dos canais tradicionais de participação política é preocupante MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
Se na USP, berço da classe média, a falta de canais adequados para a participação dos jovens tomou ESSa proporção, é preocupante o cenário que se projeta para a maioria do segmento, alocada principalmente nas franjas da cidade
A manifestação recente de estudantes da USP não é a brincadeira de criança que se tenta desenhar. Não se restringe ao debate sobre legalização das drogas ou estratégias de segurança pública. É um sintoma sério de crise democrática.
A exemplo do que vem acontecendo em outros países, as instituições tradicionais de representação do modelo hegemônico de democracia se distanciam da população, em especial dos jovens.
Cada vez mais os jovens se sentem menos representados por seus representantes. Os meios formais de participação política não gozam do prestígio de outrora. A representados, às suas necessidades e suas eventuais bandeiras, sobram frustrações.
Nos últimos anos, sinais dessa crise de representação foram observados em diversos estudos.
O Datafolha, por exemplo, em várias ocasiões tratou exclusivamente do segmento, tanto em pesquisas de mercado quanto em trabalhos de opinião pública.
Em 2008, em levantamento nacional, o instituto fez um raio X do jovem brasileiro, que, segundo os resultados, mesmo com acesso à informação por meio de múltiplas plataformas, não se via atendido em demandas básicas, como a inclusão no mercado de trabalho, educação de qualidade e combate à violência.
No ano passado, em pesquisa feita para a agência BOX 1824, o instituto detectou o papel da internet como arma política desse segmento em uma mobilização que dispensa intermediários e que encontra base no grau de identificação social entre usuários da rede em processos batizados de microrrevoluções.
Na pesquisa DNA Paulistano, feita há três anos pelo Datafolha em parceria com a Folha justamente para mapear as demandas da população de cada bairro de São Paulo, esse diagnóstico fica ainda mais claro.
De 32 itens avaliados em cada distrito do município, políticas específicas para o segmento jovem ficam em penúltimo lugar na matriz de avaliação geral da cidade, com nota média 3,7, numa escala que vai de zero a dez. Só ganha da nota atribuída à acessibilidade para deficientes físicos (2,9).
As piores notas para políticas para jovens ficam em bairros da periferia como Brasilândia e Lajeado.
Se na USP, berço da classe média paulistana, a falta de canais adequados para a participação dos jovens tomou a proporção que conhecemos, é preocupante o cenário que se projeta para a maioria do segmento, alocada principalmente nas franjas da cidade.
Se uma crise equivalente à europeia aqui se instalasse, como a polícia reagiria a eventuais manifestações dos jovens da periferia? Especialmente sem a mesma atenção da mídia, tão criticada pelos uspianos.

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