O avesso da república
O recorde dificilmente será tirado de Suely Campos (PP), governadora de Roraima. Eleita no ano passado, ela nomeou 19 parentes para postos de destaque no Estado, segundo o Ministério Público.Campos, como infelizmente seria de imaginar, não foi a única personagem da política brasileira a insistir nessa lamentável confusão entre o público e o privado.
O leitor desta Folha tem percebido que sobram notícias de governadores e prefeitos que tratam o Executivo como se fosse uma empresa particular, com a qual podem fazer favores a familiares e amigos.
No Rio de Janeiro, por exemplo, talvez se sentindo em dívida com Sérgio Cabral (PMDB), seu padrinho político e antecessor no cargo, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) entregou a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude aos cuidados de Marco Antônio Cabral.
Com 23 anos e tendo sido eleito deputado federal pelo PMDB-RJ, o filho do ex-governador fluminense terá pela frente nada menos que a Olimpíada de 2016. Estará qualificado para o desafio? Sua pouca idade sugere rala experiência, embora registre no currículo passagem pela Casa Civil carioca, sob os auspícios de Eduardo Paes (PMDB).
O prefeito do Rio, aliás, parece sempre disposto a agradar o governador do Estado. Se de 2011 a 2012 abrigou o filho de Sérgio Cabral, agora abriu espaço para o enteado de Pezão. Também filiado ao PMDB, o advogado Roberto Horta Jardim Salles, 33, assumirá uma subprefeitura recém-criada.
Situações semelhantes repetem-se Brasil afora. No Paraná, governado por Beto Richa (PSDB), a companhia de energia tem como superintendente um filho do ex-governador Orlando Pessuti (PMDB); na companhia de saneamento, uma diretoria está nas mãos de Antonio Carlos Salles Belinati, que substituiu a mãe no posto e cujo pai foi prefeito de Londrina pelo PP.
Na Bahia, o governador Rui Costa (PT) se valeu do segundo escalão para fazer média com aliados e até seduzir rivais. Ao todo, quatro filhos de políticos locais têm uma boquinha em sua gestão.
Todos esses são apenas exemplos de uma prática disseminada em todo o país, que inclui o uso da máquina pública para consolar políticos malsucedidos nas urnas ou empregar pessoas indicadas pelos mais diversos correligionários --para nada dizer das negociações espúrias que envolvem a troca de cargos por apoio político.
Nessas relações de compadrio, uma mão lava a outra --e quem se suja é o cidadão, que não paga seus impostos para sustentar apaniguados de quem quer que seja.
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