André Singer
Que se vayan todos?
Enquanto isso, a política segue o seu curso imperturbável. O PMDB, detentor da direção do Congresso Nacional, entra na disputa pela continuidade na presidência do Senado e da Câmara com nomes sujeitos a envolvimento no escândalo da Petrobras. Não seria razoável, ainda que por precaução mínima e respeito aos cidadãos, apresentar candidatos desvinculados de qualquer suspeita?
Serei chamado de ingênuo, o que ocorre com alguma frequência entre os leitores que me dão a honra de ler e comentar. Não se trata de ingenuidade e sim de evidenciar, na referência a valores, o assustador descolamento que existe entre o cotidiano na planície e a espécie de permanente baile da Ilha Fiscal em que vivem as instituições. Em particular, os grandes partidos. Parecem não se dar conta do buraco que se abre a seus pés.
No Estado de São Paulo, a situação emergencial ocasionada pela crise hídrica poderá causar efeito parecido ao que o apagão de 2001 teve sobre o governo Fernando Henrique Cardoso. Quando faltam os elementos básicos que sustentam o dia a dia, como água, energia elétrica ou alimentos, não se consegue pensar em outra coisa e o governante torna-se alvo de intenso repúdio.
O reconhecimento tortuoso por parte de Alckmin de que existe racionamento é como um tapa na cara do cidadão. Todos sabem que falta água em parte das casas pelo menos desde meados de 2014. É mais do que hora de o governador, com seriedade, comunicar o quadro real à população e o que precisará ser feito para enfrentá-lo.
Em outra esfera, o aumento das passagens na capital paulista foi feito de maneira que desconhece a força do novo tipo de mobilização social representado pelo Movimento Passe Livre (MPL). A Prefeitura argumenta que procedeu de acordo com as reivindicações de junho de 2013, entre outras coisas concedendo isenção de tarifa para estudantes de escolas públicas. No entanto, o prefeito Fernando Haddad (PT) deveria ter chamado antes o MPL e demais entidades interessadas no assunto para explicar e negociar publicamente o aumento, construindo opinião coletiva a respeito. Ao anunciar as novas tarifas de supetão e na calada das férias, subestimou o espírito do tempo.
As instituições não funcionam, mas não podemos viver sem elas. Precisamos transformá-las.
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