domingo, 18 de janeiro de 2015

'Novos baianos'

Folha de S. Paulo, 18 de janeiro de 2015.

Governadores nomeiam filhos de políticos

Pelo menos 12 jovens sem experiência em gestão pública ganharam cargos em secretarias e agências estaduais
Casos ocorrem em seis Estados; no Rio de Janeiro, filho de Sérgio Cabral tornou-se secretário de Esportes
JOÃO PEDRO PITOMBO DE SALVADOR DIÓGENES CAMPANHA DE SÃO PAULO Com perfil similar, eles têm mais que o currículo como fator decisivo para suas nomeações. São jovens entre 20 e 40 anos que nunca exerceram mandatos eletivos e têm pouca ou nenhuma experiência na gestão do serviço público.
Pelo menos 12 filhos de políticos assumiram cargos nos novos governos estaduais.
A prática não configura nepotismo, já que os pais geralmente são ex-gestores ou ocupam cargos em outras esferas públicas. Mais do que a garantia de emprego, os cargos são vitrines para a carreira política dos jovens.
É o caso do deputado federal eleito Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), 23, filho do ex-governador Sérgio Cabral. Às vésperas da Olimpíada, o jovem foi nomeado para secretaria estadual de Esportes.
'NOVOS BAIANOS'
Para agradar aliados e atrair partidos antes rivais, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), nomeou os filhos de três políticos locais e manteve um quarto herdeiro em cargos de destaque no segundo escalão de sua gestão.
Um deles é Otto Alencar Filho, 37, que abriu mão de um cargo de direção na construtora Odebrecht. Filho do senador eleito Otto Alencar (PSD), vai assumir a presidência da Desenbahia (agência estadual de fomento).
"Ele não estava precisando de emprego. Só aceitou o cargo porque o governador o chamou e ele queria uma experiência no serviço público", diz Otto, cujo filho foi cotado candidato a deputado.
Outro é Diogo Medrado, que faz administração numa faculdade particular de Salvador e é filho do deputado federal não reeleito Marcos Medrado (SD).
Diogo se tornou presidente da estatal Bahiatursa ainda em 2014, numa tentativa do então governador Jaques Wagner (PT) de atrair o SD para a coligação de Costa.
Não deu certo e o SD apoiou o oposicionista Paulo Souto (DEM) nas eleições. No poder, o petista o manteve no governo e os Medrado agora podem deixar o SD. Secretário de Relações Institucionais baiano, Josias Gomes (PT) defende as nomeações. "Todos são qualificados", diz.
Já em Roraima, a governadora Suely Campos (PP) nomeou 19 parentes, segundo o Ministério Público, sendo duas filhas escaladas para importantes secretarias.
Na visão de especialistas, nomeações do tipo são retrato do clientelismo que ainda existe na política brasileira.
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues diz ser impossível exercer a atividade política sem trocas de favores, "mas podia não ser tão exagerado assim".
"Sempre tem um grupo de seguidores que são agraciados com cargos. E o político acredita que, com um parente lá, vai ter alguém mais fiel, mais leal", avalia Rodrigues.

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