Governadores nomeiam filhos de políticos
Pelo menos 12 jovens sem experiência em gestão pública ganharam cargos em secretarias e agências estaduais
Casos ocorrem em seis Estados; no Rio de Janeiro, filho de Sérgio Cabral tornou-se secretário de Esportes
JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
DIÓGENES CAMPANHA
DE SÃO PAULO
Com perfil similar, eles têm mais que o currículo como fator decisivo
para suas nomeações. São jovens entre 20 e 40 anos que nunca exerceram
mandatos eletivos e têm pouca ou nenhuma experiência na gestão do
serviço público.
Casos ocorrem em seis Estados; no Rio de Janeiro, filho de Sérgio Cabral tornou-se secretário de Esportes
Pelo menos 12 filhos de políticos assumiram cargos nos novos governos estaduais.
A prática não configura nepotismo, já que os pais geralmente são ex-gestores ou ocupam cargos em outras esferas públicas. Mais do que a garantia de emprego, os cargos são vitrines para a carreira política dos jovens.
É o caso do deputado federal eleito Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), 23, filho do ex-governador Sérgio Cabral. Às vésperas da Olimpíada, o jovem foi nomeado para secretaria estadual de Esportes.
'NOVOS BAIANOS'
Para agradar aliados e atrair partidos antes rivais, o governador da
Bahia, Rui Costa (PT), nomeou os filhos de três políticos locais e
manteve um quarto herdeiro em cargos de destaque no segundo escalão de
sua gestão.
Um deles é Otto Alencar Filho, 37, que abriu mão de um cargo de direção na construtora Odebrecht. Filho do senador eleito Otto Alencar (PSD), vai assumir a presidência da Desenbahia (agência estadual de fomento).
"Ele não estava precisando de emprego. Só aceitou o cargo porque o governador o chamou e ele queria uma experiência no serviço público", diz Otto, cujo filho foi cotado candidato a deputado.
Outro é Diogo Medrado, que faz administração numa faculdade particular de Salvador e é filho do deputado federal não reeleito Marcos Medrado (SD).
Diogo se tornou presidente da estatal Bahiatursa ainda em 2014, numa tentativa do então governador Jaques Wagner (PT) de atrair o SD para a coligação de Costa.
Não deu certo e o SD apoiou o oposicionista Paulo Souto (DEM) nas eleições. No poder, o petista o manteve no governo e os Medrado agora podem deixar o SD. Secretário de Relações Institucionais baiano, Josias Gomes (PT) defende as nomeações. "Todos são qualificados", diz.
Já em Roraima, a governadora Suely Campos (PP) nomeou 19 parentes, segundo o Ministério Público, sendo duas filhas escaladas para importantes secretarias.
Na visão de especialistas, nomeações do tipo são retrato do clientelismo que ainda existe na política brasileira.
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues diz ser impossível exercer a atividade política sem trocas de favores, "mas podia não ser tão exagerado assim".
"Sempre tem um grupo de seguidores que são agraciados com cargos. E o político acredita que, com um parente lá, vai ter alguém mais fiel, mais leal", avalia Rodrigues.
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