Hélio Schwartsman
Não viu quem não quis
É fácil, porém, imprecar contra políticos. Um fato menos destacado é que todos os indícios de que os então candidatos mentiam ou pelo menos edulcoravam perigosamente a realidade já estavam colocados durante a campanha e foram destacados pela mídia. Não os viu quem não quis.
Não, não estou reclamando do conteúdo do estelionato. É ruim que Dilma e Alckmin tenham ludibriado pessoas (ainda que com sua adesão voluntária), mas seria muito pior se a presidente insistisse na "nova matriz econômica" e se o governador continuasse a bater na tecla de que o abastecimento de água está garantido. Isso nos leva ao tema central da coluna: a democracia funciona? Um sistema que incentiva dirigentes a enganar a população não é um tiro no pé?
Em certa medida, sim, mas há dois pontos a considerar. O primeiro e mais importante é que a democracia, com todas as suas falhas, ainda é o melhor sistema de governo de que dispomos. O segundo é que a democracia lida melhor com alguns tipos de problema que com outros.
Eleições e a busca de consensos funcionam bem para eliminar erros que tenham distribuição gaussiana pela população, mas fracassam quando o viés é sistemático. Isso significa que o sistema é relativamente eficaz para combater chagas como o radicalismo, no qual as posições extremas de sinal invertido acabam se anulando, mas não para lidar com as ilusões cognitivas que afetam à maioria. E, infelizmente, o grosso dos eleitores leva a sério a palavra de autoridades e é vulnerável à promessa de um futuro róseo. O consolo aqui é que o eleitor acaba aprendendo, se não a lidar com seus vieses, ao menos a punir na urna aqueles que percebe como não confiáveis.
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