Número de homicídios no
mundo cai, mas cresce no Brasil, diz ONU
Em números absolutos, país é o que registra o maior
índice de mortes violentas entre 133 nações avaliadas
por Deborah
Berlinck
10/12/2014
10:23 / Atualizado 10/12/2014 12:20
GENEBRA —
O número de homicídios está em queda no mundo. Apesar disso, o Brasil está na
contramão da tendência. Em números absolutos, é o país com o maior índice de
assasinatos no mundo: 64,357, o que equivale a 32.4 mortes para cada 100 mil
pessoas, revela relatório global para prevenção de violência preparado por
agências das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira.
O Brasil
ultrapassa até a Índia (52 mil) – o segundo país mais populoso do planeta. E
tem mais do dobro de homicídios que o México (26 mil), Colômbia (20 mil),
Rússia e África do Sul (18 mil), Venezuela e Estados Unidos (17 mil). A
esmagadora maioria das vítimas brasileiras são homens. A estimativa é da
Organização Mundial de Saúde, uma das três agências que participaram do estudo.
Numa
avaliação dos homicídios per capita, no entanto, o Brasil não é o país mais
violento do mundo. Embora o país tenha quase 5 vezes mais do a média de
homicídios no mundo (6 para cada 100 mil pessoas), quem lidera o ranking nas
estimativas da OMS é Honduras, com 103.9 assassinatos para cada 100 mil habitantes,
seguido da Venezuela, com 57 casos para cada 100 mil e 45 no caso da Jamaica. O
Brasil fica entre os 10 mais violentos.
Os
números da OMS são bem maiores do que os dados oficiais fornecidos pela polícia
brasileira e que também constam do relatório : 47,136 mil ou 24.3 para cada 100
mil pessoas. Nos dois casos, no entanto, os dados mostram uma curva ascendente
no número de homicídios brasileiros desde 2007, depois de uma queda nos
registros no período entre 2003 e 2007.
Em 2012, foram registrados 475 mil assassinatos no planeta, que registrou queda de 16% em relação aos números de 2000. Os dados do país foram fornecidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Em 2012, foram registrados 475 mil assassinatos no planeta, que registrou queda de 16% em relação aos números de 2000. Os dados do país foram fornecidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Desigualdade
social e cultura de aceitação da violência, conjugados à convivência com armas
e à ampla cobertura da mídia sobre o tema são algumas das explicações apontadas
para o elevado nível de homicídios no continente americano.
ADVERTISEMENT
Mas
representantes das agências que prepararam o relatório não conseguiram explicar
porque a curva de homicídios se reverteu no Brasil depois de estar em queda.
Para Etienne Krug, diretor do departamento de Prevenção de Violências, Lesões e
Incapacitações da Organização Mundial de Saúde (OMS), parte da explicação pode
ser creditada à melhor coleta de dados fornecidos pelo governo.
— Eu sei
que houve vários esforços no Brasil (para combater a violência) – disse ele.
Sara
Sekkenes, do Programa da ONU para o Desenvolvimento (Pnud), admitiu que há
limitações na análise dos dados:
— Há
limites (na análise), porque o relatório não leva em consideração, por exemplo,
o impacto da crise financeira e do desemprego. Mas é algo que ajuda a começar a
olhar para os problemas da violência.
O
relatório, que analisou dados de 133 países, avaliou também a legislação do
Brasil no combate e prevenção da violência. Segundo o documento, o país
destaca-se positivamente por possuir leis abrangentes contra os maus tratos de
crianças e de idosos, mas precisa melhorar suas formas de inibir a violência
sexual. Questões como a do estupro no casamento e a remoção de marido violento
não são contempladas em sua plenitude. A ONU também não considera suficiente a
legislação para impedir o porte de armas nas escolas.
O texto
deixa claro que a criação de mais leis contra a violência não impede que atos
violentos sejam cometidos em grande escala. Nos 133 países que fizeram parte do
estudo, a ONU detectou que uma a cada quatro crianças já sofreu abuso, enquanto
que uma a cada três mulheres já foi vítima de violência física ou sexual cometido
pelo parceiro e que um a cada 17 idosos sofreu algum tipo de agressão no último
mês.
Apesar de
Krug afirmar ser boa a notícia da diminuição do número de homicídios no mundo,
avaliou que os países têm dificuldade na aplicação das leis. Em média, 80%
deles adotaram regras para prevenção e combate da violência, mas apenas metade
as puseram em prática.
Publicidade
— Existem
leis, mas muitos países informaram que elas não são aplicadas – disse Krug.
PORTE DE
ARMA
Sobre
restrição ao uso de armas, o documento compara o Brasil a outros países, e
chama atenção que o porte de uma família violenta não é retirado, ao contrário
do que acontece nos Estados Unidos, na Suécia ou na Colômbia. Além disso, o
país não limita a compra de munição, ao contrário do que ocorre no México e na
África do Sul. O ponto do controle do porte de armas foi considerado importante
pela ONU.
Forte
controle de porte de armas é importante, segundo a ONU, porque aumenta a
propabilidade de violência: um a cada dois homicídios é cometido com armas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário