sexta-feira, 6 de abril de 2012

Os soldados de Osaide

Folha de S. Paulo, 06 de abril de 2012.

Minha História Osaide de Holanda Cavalcante, 67
Os soldados de Osaide

Dos quatro filhos do PM reformado, 3 foram assassinados durante o trabalho; último foi em confronto na Rocinha
MÁRCIO MENASCE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO


RESUMO Na quarta-feira, Osaide de Holanda Cavalcante, 67, perdeu seu terceiro filho para a violência no Rio. O PM Rodrigo Alves Cavalcante, 32, participava de uma ronda na favela da Rocinha (zona sul) quando levou um tiro e morreu. Em 1992, Cavalcante já havia perdido Ronaldo, também PM, morto em confronto aos 23 anos. Dois anos depois, Roberto, que trabalhava como segurança e tentava entrar para a polícia, foi assassinado ao reagir a um assalto, aos 24 anos. Dos quatro filhos, restou só o mais velho, professor.
Quando eles decidiram seguir essa profissão, já eram todos homens feitos e sabiam o que queriam para a vida deles. Nunca fui contra.
Já vi muitos amigos policiais se aposentarem sem nenhum problema, como eu mesmo, que fui reformado por problemas de saúde apenas, mas também já vi muitos serem mortos. É uma contingência da profissão.
Não os apoiaria se fossem ladrões, mas sendo policiais honrados, como muitos outros profissionais, não vejo nenhum problema.
DOR
É um momento muito difícil na vida de uma pessoa. Isso afeta não só a mim, mas a toda a família. É uma pancada perder um filho nessa idade, ainda mais sendo o terceiro. A lei natural é o pai ser enterrado pelo filho.
Não é fácil para um pai superar essa dor, principalmente quando se tem filhos como os meus, que eram pessoas muito queridas por toda a família. Depois que eles se vão, nenhuma festa em casa fica completa. O Natal nunca mais é o mesmo, está sempre faltando alguém.
OUTRA VEZ
Estou passando por esse problema mais uma vez. Meu filho morreu. Ele era um menino bom, trabalhador, trazia muita alegria para a casa.
Não foi o primeiro policial a ser morto e talvez não seja o último. É uma característica da vida.
Vivemos inventando uma porção de desculpas e justificativas para a morte, mas acredito que quando chega a hora de uma pessoa, não há o que fazer.
Qualquer um está sujeito a passar por isso. Só posso entregar o destino nas mãos de Deus e seguir em frente com a minha vida.
Não culpo a ação da PM de fazer o patrulhamento a pé na favela pela morte do meu filho. Acho que é o que tem que ser feito nessa comunidade. Se não for caminhando pelas vielas, não há outra maneira de encontrar os criminosos naquele local.
FALTA JUSTIÇA
Hoje é mais difícil ser policial do que era no meu tempo. O crime atualmente é mais organizado. E a falta de justiça contribui para o aumento da violência.
Se um policial faz uma prisão em flagrante, quando chega na delegacia com o preso, já encontra dois ou três advogados prontos para tentar soltar o criminoso.
Acho que alguém detido em flagrante deveria permanecer na delegacia por no mínimo 48 horas, até ser liberado. Espero que esse assassino seja punido, porque hoje quem perdeu fui eu.

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