O Estatado de S. Paulo, 22 de abril de 2012.
Baixeza na Corte
22 de
abril de 2012 | 3h 01
Nunca foi
tão apropriado um chamamento quanto o feito pelo ministro Carlos Ayres Britto
em seu discurso de posse na presidência do Supremo Tribunal Federal: "Mais
que impor respeito, o Judiciário tem que se impor o respeito".
Os
desaforos distribuídos pelo antecessor Cezar Peluso em suas entrevistas de
despedida do posto, bem como o revide de um de seus alvos, o ministro Joaquim
Barbosa, acusando-o de manipular resultados de julgamentos, evidenciam a
carência do atributo invocado pelo novo presidente da Corte.
As brigas
ao molde de ambientes desatinados não são novidade no Supremo. Vira e mexe um
ministro se indispõe publicamente com o outro. Não quer dizer que sejam
condutas aceitáveis. A repetição as torna mais condenáveis.
Mas agora
a ausência de cerimônia chegou ao ápice, levando a credibilidade da Corte ao
rumo do declínio.
O
ministro Peluso disse o que quis sobre a presidente Dilma Rousseff, sobre um
senador da República, sobre a corregedora do Conselho Nacional de Justiça,
sobre a independência jurisdicional do Supremo.
Acabou
ouvindo o que não deve ter gostado de ouvir de um de seus pares a quem chamou
temperamental, complexado e permeável a pressões da opinião pública por
insegurança.
Em
entrevista ao jornal O Globo, Joaquim Barbosa deu o troco com juros e, como se
dizia antigamente, correção monetária.
Nos
trechos amenos chamou Peluso de "ridículo", "brega",
"caipira", qualificou sua passagem pela presidência do STF como
"desastrosa" e o acusou de ter "incendiado o Judiciário inteiro
com sua obsessão corporativista".
Alguns
adjetivos nem precisavam ser ditos por outrem, pois o próprio Cezar Peluso
tratou, recente e anteriormente, de expô-los ao escrutínio público em posições
assumidas nos votos ou declarações.
Joaquim
Barbosa, contudo, foi muito além: acusou Peluso de manipular resultados de
votações, usar das prerrogativas do cargo para fazer valer sua vontade, criar
"falsas questões processuais" e na imputação mais grave de todas
referiu-se a roubo e prevaricação.
Ou há
outra interpretação possível para o trecho em que o ministro diz que o então
presidente aproveitou a ausência dele do STF para lhe "surrupiar"
processo em que era relator a fim de "ceder facilmente" a pressões?
Se os
ministros do Supremo não estivessem fora da jurisdição do Conselho Nacional de
Justiça seria um caso de se proceder a averiguações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário