domingo, 13 de março de 2011

É para valer?

Folha de S. Paulo 13 março 2011.

JANIO DE FREITAS

Contra as verdades



Assim é há um quarto de século e o será por muito tempo, porque as gerações de militares não mudaram


A NOTA do Ministério da Defesa sobre a má recepção militar à futura Comissão da Verdade não é verdadeira. O que "está superado" desde 2010 não é o documento feito no comando do Exército com restrições ao propósito da Comissão, como induz a nota do ministério, e portanto do não assinado ministro Nelson Jobim. Superada foi a intenção dos comandos de tornar o documento oficialmente público, contra a opinião de Jobim. O que não impediu seu recente vazamento, sem que caísse do céu, para "O Globo".
A Comissão da Verdade - projeto encaminhado ao Congresso pelo governo Lula -, ainda que tenha finalidade apenas histórica e não questione a anistia, é considerada revanchista pelos comandos militares. Foi em represália a esse projeto que o patrono designado para a turma de aspirantes de 2010, no Exército, é o general Médici, patrono também do período ditatorial em que se deram os piores e mais numerosos crimes da repressão militar.
Assim é há um quarto de século e assim será por tempo imprevisível, porque as gerações de militares se sobrepuseram, mas a formação dos atuais não mudou e a dos futuros comandos, como informa a escolha do mais recente patrono, continua a mesma. Constou, tem algum tempo, que Nelson Jobim pensava na introdução de duas novas matérias em alguma altura dos cursos de cadetes: Constituição e Direitos Humanos. A escolha é significativa por si só, mas com relevância especial para a indicada necessidade de que seja o caso, ainda, de impor o conhecimento da Constituição. Não é preciso dizer mais sobre a formação.

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