Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 2011 (editorial)
Factoide do PSD
Proposta do novo partido de Kassab, de fazer Constituinte, não passa de verniz para dar ilusão programática a uma legenda que nasce fisiológica
Com dois governadores, dois senadores, algo em torno de 50 deputados federais e seis vice-governadores, está formalmente criado o PSD (Partido Social Democrático), legenda idealizada pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab.
Gestado a toque de caixa, para atender as exigências da Justiça Eleitoral e ter condições legais de se apresentar como opção de poder nos pleitos municipais de 2012, o PSD já surge cercado de suspeições relacionadas à coleta das assinaturas que o viabilizaram.
Relatou-se um pouco de tudo nos últimos meses: inclusão de eleitores já mortos na lista, dezenas de assinaturas falsificadas feitas por uma única pessoa, uso da máquina pública para coletar apoio e denúncias de compra de adesões.
Além disso, parte expressiva dos 490 mil apoios necessários ao registro do PSD não passou pela chancela dos tribunais regionais, como deveria, mas isso também não impediu que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concluísse que o partido cumpriu todos os requisitos para ser constituído.
Além do atropelo das exigências legais, o PSD nasce marcado pela inclinação governista, ou de adesão ao governo, qualquer governo, sem distinção ideológica.
Tende a apoiar Dilma Rousseff e o PT no plano federal, mas um de seus quadros, Guilherme Afif -para citar um exemplo didático- é vice do tucano Geraldo Alckmin e está cotado para disputar a prefeitura paulistana contra candidatos do PT e do próprio PSDB.
Nesse jogo não há coerência, não há impedimentos ou motivações de ordem programática. Subsiste apenas o cálculo pragmático para chegar ao poder ou a ele se associar em troca de cargos e favores.
Na sua composição, o PSD junta dissidentes do DEM, que desistiram de fazer oposição, com figuras fisiológicas do governismo, a quem interessava trocar de legenda a fim de robustecer projetos pessoais.
É, nesse sentido, um partido à moda do PMDB, que não disfarça a pretensão de disputar mais adiante o lugar que hoje pertence à legenda de Michel Temer.
Soa, por isso, como factoide o anúncio de que o PSD apresentará uma proposta de emenda à Constituição para criar, em 2014, uma Assembleia Nacional Constituinte, paralela ao Congresso, com a função exclusiva de revisar a Carta em até dois anos. Lançada assim, num golpe de marketing, a ideia parece um tanto precipitada, leviana. Destina-se a atender apenas à necessidade de dar um verniz programático, um perfil propositivo à legenda, cuja real vocação está mais que definida.
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